Exu
Exu traz nas mãos o Ogô ou Insígnia. Cetro em forma de pênis na representação da procriação dos seres humanos.
E X Ú – O Mensageiro dos Orixás
Exú é sem dúvidas a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida e comentada. Há antes de mais nada, a discussão de que Exú seria um Orixá ou apenas uma entidade diferente, que ficaria entre a classificação de orixá e ser humano. Sem dúvidas ele trafega tanto pelo mundo material (ayé) onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos, como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam os orixás, entidades afins e almas dos mortos. Não existe culto (seja na Umbanda ou nas nações do Candomblé) onde não se faça necessária a presença do Orixá Exú. É ele que inicia todo processo espiritual de contato com os Deuses do Panteão Africano. É o primeiro orixá a ser louvado em qualquer culto afro-brasileiro, pois depende dele a permissão para que se possa fazer o contato necessário com o mundo espiritual. Exú é o telefone que liga os planos material (ayé) ao plano espiritual (orum), e da mesma forma que faz essa comunicação, Exú também tem o poder de interromper a mesma, causando várias vezes dificuldades de incorporação e problemas de ordem espiritual. Por isso, a grande maioria dos Zeladores do Santo prega a seriedade e a ordem no início dos cultos quando se louva a Exú. Embora culturalmente seja muito falado e confundido por vezes com forças malignas ou negras, Exú é alta patente dentro do mundo dos Orixás, recebendo “status” de alta autoridade. Orixá quase sempre sem noção do poder que possui, Exú é freqüentemente lembrado em lendas onde desafia orixás e algumas vezes torna-se vencedor. Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exú habitar as encruzilhadas, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas, entradas e saídas. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum, o orixá da guerra, ser considerado o senhor dos caminhos. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (que são irmãos de acordo com as lendas), Ogum é o responsável pelo desbravamento, pelo desmatar e o criar de novos caminhos, pela expansão imperialista do reino, enquanto Exú é o senhor da força (axé) que percorre os caminhos. Da onde vem a ligação de Exú a um suposto “Diabo” ? Como os africanos não podiam cultuar seus deuses em liberdade, mascaravam a prática em cultos católicos, como se tivessem se convertido a religião dominante, para escapar dos castigos. Aproveitando que alguns jesuítas tentaram usar o conjunto de mitos africanos moldando-o na medida do possível às configurações católicas para apressar o aculturamento, os negros faziam completos cultos de candomblé, mas colocavam figuras de santos católicos nos altares, sob os quais ficavam os assentamentos verdadeiros dos orixás que tinham trazido da África ( onde surgiram os sincretismos com os Santos da Igreja Católica – para os Africanos Ogum era o Deus da guerra e viram em São Jorge a figura de um guerreiro que se encaixava no perfil da divindade africana). Como precisavam de um Diabo, os jesuítas encontraram na figura de Exú o orixá que poderia, meio forçadamente, vestir a roupa, provavelmente porque, sendo o mais humano dos orixás, a ele se pedia interferência nas questões mais mundanas e práticas, o que resulta que a maior parte das oferendas do culto vá para ele. Exatamente por isso, Exú era a divindade que protegia, na medida do possível os negros dos repressivos senhores. Os pratos de comida oferecidos ritualisticamente (ebós) para Exú eram deixados nas encruzilhadas próxima a casa grande e constituíam a parte visível do ressentimento dos negros. Era para Exú que pediam desgraças para seus senhores. Numa circunstância de luta, aquele que pratica o bem para um (atacando o outro) também pode ser visto, pela ótica do antagonista, como o que faz o mal. Assim , os senhores de engenho viram em Exú o Demônio que os negros lançavam contra eles. Dois outros fatores associam Exú ao Demônio: o fogo, elemento do Diabo e também freqüente nos cultos e oferendas para o mensageiro dos orixás africanos; e o sexo, território considerado tabu pelos católicos, e o prazer – em geral, as atividades preferidas de Exú. É Exú quem está presente no ato da fecundação, no exato momento da criação do ser humano ( Exú tem as égides no ato da fecundação, passa para Oxum que conduz toda a gestação, esta por sua vez passa para Nanã no ato do nascimento para que esta peça a Oxalá a autorização para a nova vida, após o nascimento a responsabilidade é do Orixá que tomará conta daquela ori (cabeça) pelo resto da sua existência juntamente com Yemanjá, por ser esta a responsável pelo constante aprimoramento do ser humano.
O Arquétipo dos seus filhos
Embora muitas pessoas tragam em seus oris a energia do Orixá Exú, dificilmente é sabido do médium que ele é filho do Grande Senhor das Encruzilhadas. Na grande maioria das vezes os (as) Zeladores (as), não dão como Orixá de cabeça o Senhor Exú, geralmente é dada na cabeça dos filhos deste Orixá o Eledá (primeiro santo) de Ogum. Troca quase sempre aceita, já que Exú e Ogum são irmãos. São pessoas intempestivas, de certa forma nervosas, gostam de festas e brincadeiras. Assim como seu Orixá, não aceitam certos desrespeitos e quando enfurecidos, partem para uma vingança sem piedade. São amantes fulgorosos, e carregam em si a responsabilidade de servir as pessoas, nunca se importando em serem pagos por isso.
O Culto ao Orixá
Exú é sempre cultuado por qualquer iniciado das nações africanistas e mesmo por meros simpatizantes que procuram um babalorixá para a resolução de problemas práticos, como relacionamentos amorosos, brigas, disputas profissionais, vendas complicadas, etc. Cada ser humano tem seu próprio Exú, assim como tem um orixá de cabeça e um segundo orixá, o ajuntó. Todo terreiro também tem seu Exú protetor, que zela pela segurança da casa ou terreiro (ilê) , contra males encarnados ou desencarnados. Segundo a tradição iorubana, cada orixá tem seu próprio Exú, que funciona como seu servo, possibilitando o contato entre as diferentes divindades. Seu dia de culto é as segundas-feiras (certas falanges trazem a Sexta-feira como dia de culto), suas cores são o preto e vermelho (cores como amarelo, branco ou roxo, indicam a falange e a área de atuação daquele Exú), sua saudação é Laroiê!!. Sua comida ritualística é a farofa de dendê (farinha de mesa misturada ao azeite de dendê), os animais mais freqüentemente sacrificados a este orixá são os frangos pretos, galinhas d’angola e bodes, seus pais são Yemanjá e Oxalá, sua função é a comunicação entre os planos astral e material, seus domínios são as porteiras e encruzilhadas, e seu instrumento de atuação é o ogô ou insígnia. Dentre os exús mais conhecidos podemos citar: Exú Tranca Ruas, Exú Veludo, Exú Tiriri, Exú Caveira, Exú Tata Caveira, Exú Pinga Fogo, Exú Marabô, Exú Pantera Negra, Exú Lalu, Exú Mangueira, Exú Morcego, Exú Mulambo, entre outros. Entre as pomba-giras mais conhecidas podemos citar: Maria Padilha, Maria Mulambo, Maria Figueira, Rosa Caveira entre outras.
Lendas De Exú
Porque Exú Recebe Oferendas Antes Dos Outros Orixás
Exu foi o primeiro filho de Iemanjá e Oxalá. Ele era muito levado e gostava de fazer brincadeiras com todo mundo. Tantas fez que foi expulso de casa. Saiu vagando pelo mundo, e então o país ficou na miséria, assolado por secas e epidemias. O povo consultou Ifá, que respondeu que Exu estava zangado porque ninguém se lembrava dele nas festas; e ensinou que, para qualquer ritual dar certo, seria preciso oferecer primeiro um agrado a Exu. Desde então, Exu recebe oferendas antes de todos, mas tem que obedecer aos outros Orixás, para não voltar a fazer tolices.
Vingança de Exú
Um homem rico tinha uma grande criação de galinhas. Certa vez, chamou um pintinho muito travesso de Exú, acrescentando vários xingamentos. Para se vingar, Exú fez com que o pinto se tornasse muito violento. Depois que se tornou galo, ele não deixava nenhum outro macho sossegado no galinheiro: feria e matava todos os que o senhor comprava. Com o tempo, o senhor foi perdendo a criação e ficou pobre. Então, perguntou a um babalaô o que estava acontecendo. O sacerdote explicou que era uma vingança de Exú e que ele precisaria fazer um ebó pedindo perdão ao Orixá. Amedrontado, o senhor fez a oferenda necessária e o galo se tornou calmo, permitindo que ele recuperasse a produção.
Exú Instaura O Conflito Entre Iemanjá, Oiá E Oxum
Um dia, foram juntas ao mercado Iansã e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum. Exú entrou no mercado conduzindo uma cabra, viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de Iemanjá, Iansã e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orumilá.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exú partiu. A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Iansã e Oxum puseram os dez búzios de Exú a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Iansã e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.
Iemanjá disse: “É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais”. Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.
Iansã intercedeu, dizendo que, em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio. As três não conseguiam resolver a discussão.
Não havia meio de resolver a divisão. Exú voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: “Onde está minha parte?”.
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exú deu três a Iemanjá, três a Oiá e três a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exú disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser. Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. “Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios.”
Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exú estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.
Exú Torna-Se O Amigo Predileto De Orumilá
Como se explica a grande amizade entre Orumilá e Exú, visto que eles são opostos em grandes aspectos?
Orumilá, filho mais velho de Olorum, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exú, pelo contrario, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orumilá era calmo e Exú, quente como o fogo.
Mediante o uso de conchas adivinhas, Orumilá revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorum e os significados do destino. Orumilá aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exú os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O caráter de Orumilá era o destino, o de Exú, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.
Uma vez, Orumilá viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orumilá portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro.
Mas na comitiva de Orumilá muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orumilá. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.
Até que Orumilá encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".
Quando Orumilá chegou em casa, refletiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orumilá esperou.
Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orumilá e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orumilá lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.
A esposa de Orumilá pareceu compreendê-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado. Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exú chegou.
Exú também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orumilá não lhe devia nada. Exú disse que não. A esposa de Orumilá persistiu, perguntando se Exú não queria a parafernália de adivinhação. Exú negou outra vez. Aí Orumilá entrou na sala, dizendo: "Exú, tu és sim meu verdadeiro amigo!". Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exú e Orumilá.
Exú Leva Aos Homens O Oráculo De Ifá
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exú pegou a estrada e foi em busca de solução. Exú foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exú matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exú retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exú foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exú pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exú, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus, recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exú de novo". Exú fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exú mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exú trouxe aos homens o Oráculo de Ifá.
ITANS
(LENDAS)
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Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas.
Exu não possuia riquezas, não possuia terras, não possuia rios, não tinha nenhuma profissão, nem artes e nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá. Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, Exu se distraía, vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, sete dias, e nada aprendiam. Traziam oferendas, viam o velho orixá, apreciavam sua obra e partiam.
Exu foi o único que ficou na casa de Oxalá ele permaneceu por lá durante dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem e aprendeu como Oxalá modelava as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens, as mãos, os pés, a boca, os olhos, e a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou auxiliando o velho Orixá.
Exu observava, não perguntava nada Exu apenas observava e prestava muito atenção e com o passar do tempo aprendeu tudo com o velho.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa. Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer. Oxalá não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exu que tinha aprendido tudo, agora podia ajudar Oxalá.
Era ele quem recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exu executava bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim, quem viesse à casa de Oxalá teria que pagar também alguma coisa a Exu.
Exu mantinha-se sempre a postos guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância. Exu trabalhava demais e fez sua casa ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, e sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
E ninguém pode mais passar pela encruzilhada sem fazer uma paga a Exu.
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DUAS LENDAS DE EXU
1
Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás. Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e
discussões entre as pessoas ou para preparar-lhes armadilhas. Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar,
numa peneira, o óleo que comprou no mercado, sem que este óleo se derrame deste estranho recipiente! Exu pode ter matado um
pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje! Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar! Sua
cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca. Ele nada pode transportar sobre ela.
Exu pode também ser muito malvado, se as pessoas se esquecem de homenageá-lo. É necessário, pois, fazer sempre
oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá. A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É bom fazer-lhe oferendas
neste dia, de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto. Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam,
esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas.
Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Exu,
zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhe um golpe à sua maneira. Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo
que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores
amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os:
“Bom trabalho, meus amigos!” Estes, gentilmente, responderam-lhe: “bom passeio, nobre estrangeiro!” Assim que Exu
afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu companheiro: “Quem pode ser este personagem de boné
branco?” Disse o primeiro. “Seu chapéu era vermelho!” Respondeu o homem de campo à esquerda. “Não, ele era branco, de um
branco de alabastro, o mais belo branco que existe!” Insistiu o primeiro. "Não, Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor
insustentável!” Insistiu o outro. “Não e não, ele era branco, trata-me de mentiroso?” disse, novamente o primeiro. “Ele era vermelho,
ou pensas que sou cego?" disse mais uma vez seu companheiro.
Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança de outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram a
bater-se até matarem-se a golpe de enxada. Exu estava vingado! Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido
negligenciadas. Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e generosidade. Há uma maneira
hábil de obter um favor de Exu. É preparar-lhe um golpe mais astuto que aquele que ele mesmo prepara.
2
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía. As rãs
choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas , caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas
queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta
excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com molho muito apimentado. Exu teve sede. Uma sede tão grande
que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar
sua sede! Exu foi à torneira da chuva e abri-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e
no dia depois, sem parar.
Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua gloria: “Joro, jará, joro Aluman, Dono
dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes! Joro, jará, joro Aluman, Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas! Joro,
jará, joro, Aluman, Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca! Joro, jará, joro Aluman!” E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam,
e o rio corria velozmente para não transbordar! Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da
pimenta. Havia chovido bastante. Mais seria desastroso! Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.
LENDAS AFRICANAS DOS ORIXÁS - DE PIERRE FATUMBI VERGER - TRADUÇÃO: MARIA APARECIDA NÓBREGA - EDITORA: CORRUPIO
Características do Orixá Exu:
DIA DA SEMANA
Segunda-feira.
CORES
Preto e vermelho.
SÍMBOLOS
Tridente e/ou bastão (opa ogó).
ELEMENTO
Fogo.
PLANTAS
Pimenta, capim tiririca, urtiga. Arruda, salsa, hortelã.
ANIMAIS
Bode.
METAL
Bronze, ferro (minério bruto).
COMIDAS
Farofa de dendê, bife acebolado, picadinho de miúdos.
BEBIDAS
Cachaça.
SINCRETISMO
Santo Antônio (13/06) .
FUMO
Charutos.
DOMÍNIOS (variados)
Passagens, encruzilhadas, caminhos, portas, entrada das casas.
O QUE FAZ
Vigia as passagens, abre e fecha os caminhos. Por isso ajuda a resolver problemas da vida fora de casa e a encontrar caminhos para progredir. Além disso, protege contra perigos e inimigos.
QUEM É
Elo de ligação entre os homens e os Orixás; senhor da vitalidade; do sexo; da alegria, da vida, das sensações.
CARACTERÍSTICAS
Apaixonado, esperto, criativo, persistente, impulsivo, brincalhão, amigo.